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Mar04

A ligação ferroviária com a Europa, graças às ligações já existentes em Espanha, foi inaugurada em 1866, 10 anos depois da primeira viagem de comboio oficial em Portugal, entre Lisboa e o Carregado. O fim do século passado, para lá das convulsões sociais, políticos e económicos que caracterisa as nações europeias, e para além as conseguentes transformações culturais que agitaram o mundo de então, foi caracterizado por isso mesmo entre nós: pelo assento visível numa política de transporte e comunicação. O comboio foi, pela sua parte, o meio transporte da modernidade. Sem ele, não seria possível modernizar a nossa cultura literária nem a nossa cultura política, da mesma forma que os tímidos passos dados na modernização económica não teriam sido possíveis. O nosso século entrou na história à velocidade do comboio. Mesmo assim, não era forçosamente rápida, essa velocidade: 40 minutos, entre Lisboa e o Carregado, com uma locomotiva arrastando penosamente consigo 14 carruagens.
Nas Memórias da marquesa de Rio Maior há referência ao facto de algumas dessas caruagens terem ficado nos Olivais, precisamente porque a locomotiva que as puxava não tinha potência suficiente para o fazer capazmente. É, de certo modo, a imagem da modernização industrial a entrar em Portugal: a locomotiva, denominada Portugal, de 6 rodas, era já antiga, e a sua potência inicial gastara-se no processo de desenvolvimento das obras de criação da própria via. No dia da inauguração, no caminho de regresso , teve de deixar metade das carruagens a meio caminho, regressando depois trazendo consigo as restantes, com convidados certamente exaustos e maldizendo do 1º comboio português.
A lentidão da 1ª locomoptiva portuguesa, em 2ª mão vinda de Inglaterra, onde já havia servido generosamente, era, assim, simbolica. Só muito lentamente, a pouco e pouco o comboio foi desenhando uma geografia que depois fixamos nos bancos das escolas primárias, nessa longa, lenta e exasperada enumeração (depois útil, como sempre) de estações, apeadeiros, ramais, linhas e troços menores da ferróvia nacional. Uma espécie de cantilena que se ouve e nos soa um pouco como a repetição do mundo. E se muitos de nós não sabíamos da existência real de grande parte das coisas que enumerávamos, sabíamos, pelo menos, que nessa confusão de apeadeiros e estações das várias linhas e ramais de Portugal circulava como um corpo comunicante.
Isto é o q podemos encontrar em:
http://atelier.hannover2000.mct.pt/~pr498/histcomo.htm