Vitória
Milheiras
As mãos, pele fina de amor
pelo tempo e trabalho, amaciadas,
Mãos que suportam tudo e aliviam a dor
Cara enrugada, esculpida como se tivesse estradas,
Estradas de lágrimas, da saudade e arrelias
O peso dos desgostos e alegrias,
Transportadas num peito sem firmeza,
Onde se recebe abraços com força e gentileza.
Dentes perdidos por tantos risos dados
De profunda felicidade.
Corpo curvado com peso da responsabilidade.
Cabelos longos e agora brancos que tanto foram amados.
Fonte de paciência, carinho e compreensão,
Mas no fundo ainda habita a inquietude,
Tal como nos tempos de juventude,
Em que tudo tinha por base a paixão.
Porque todos olham e vêm o que foi perdido.
Não vêm, que a tua maneira de ser se tem mantido.
Todos te olham como uma velha, incapaz.
E tu perguntaste quando foi que eu envelheci?
Quando deixei de ser capaz?
Que eu nunca me apercebi…
(2013) Milheiras